06 Mar Sobreposição de nicho diário de uma rede de beija-flores-planta no sudeste da Mata Atlântica, Brasil (contribuição de Andrea Nieto, estudante de mestrado orientada pela Prof.ª Dr.ª Isabela)

No meu projeto de mestrado, avaliei a partição de nicho temporal de curto prazo de uma rede planta-beija-flor na Floresta Atlântica do sudeste do Brasil (Figura 1). A Floresta Atlântica abriga muitas espécies de bromélias, que são polinizadas principalmente por beija-flores.

Algumas dessas espécies de plantas compartilham as mesmas espécies de polinizadores, florescem ao mesmo tempo e têm flores que duram apenas um dia. Aqui, o tempo é crucial para a polinização das plantas e para a aquisição do néctar do beija-flor. Nesse cenário, onde espécies de plantas podem estar competindo por polinizadores e beija-flores por néctar, explorei padrões temporais de produção de néctar e visitas de beija-flores ao longo do dia. Se a competição está estruturando fortemente essa rede planta-beija-flor, então as espécies de plantas deveriam produzir néctar em momentos diferentes ao longo do dia, especialmente quando muitas outras espécies estão florescendo ao mesmo tempo (co-floração) e são visitadas pela mesma espécie de beija-flor. As espécies de beija-flores devem visitar as espécies de plantas durante diferentes horas do dia para evitar a competição se os recursos forem limitados. Durante oito meses, de novembro de 2018 a julho de 2019, foram registradas 488 interações planta-beija-flor entre quatro espécies de beija-flor (Phaethornis eurynome, P. squalidus, Ramphodon naevius e Thalurania glaucopis) e 12 espécies de plantas. As plantas visitadas por beija-flores pertenceram às famílias Bromeliaceae (88%), seguida por Acanthaceae (12%). O néctar foi disponível ao longo do dia e oferecido principalmente por Bromeliaceae, indicando que as espécies de plantas desta família eram a fonte de néctar mais importante para os beija-flores. Em todas as espécies de plantas, houve considerável sobreposição na produção temporal de néctar; no entanto, houve algumas exceções onde pares de espécies de plantas produziram néctar em períodos diferentes. A sobreposição pareada total na produção temporal de néctar (em mg de açúcar) não variou quando as espécies de plantas floresceram ao mesmo tempo que outras espécies (co-floração; Figura 2A) ou quando compartilharam pelo menos uma espécie de beija-flor (Figura 2). Os beija-flores não apenas visitavam as mesmas espécies de plantas, mas também se alimentavam ao mesmo tempo ao longo do dia. Alimentaram-se de forma mais ativa entre as 06h00 e as 10h00, período em que ocorreram 56% das visitas. Esses resultados sugerem que a competição foi limitada entre as espécies de plantas e beija-flores. Ao invés disso, interações positivas, como facilitação, podem estar estruturando essa rede mutualística. Para as plantas, o co-florescimento ou o compartilhamento de uma espécie de beija-flor pode ser benéfico. Ao florescer juntas, as plantas atraem mais polinizadores e podem evitar a transferência de pólen heteroespecífico ao depositar pólen em diferentes partes do corpo de seus polinizadores. Os beija-flores podem facilitar uns aos outros, pois suas visitas constantes às plantas promovem a polinização e, portanto, a estabilidade da população das suas plantas-recurso.

Esses resultados são úteis na compreensão do particionamento de nicho nas redes beija-flor-planta em uma escala temporal que raramente é considerada em sistemas de polinização – uma escala diária. Além disso, essas descobertas sugerem que a facilitação é um possível mecanismo que está influenciando a comunidade de plantas e beija-flores nessa área da Mata Atlântica.